A longa trajetória do PT até chegar ao poder em 2002 representou a primeira experiência de governo de esquerda a comandar o país desde a redemocratização no final dos anos 80. Após os 8 anos de um governo exitoso do ex-presidente Lula e o tumultuado governo de Dilma Roussef, interrompido por um golpe parlamentar, o PT se vê diante de um grande dilema: manter a candidatura de Lula, mesmo preso e, ao olho da lei inelegível, lançar outro nome das “hostes” petistas ou costurar uma aliança com partidos da centro esquerda repassando o imenso espólio eleitoral de Lula.
Analisando as primeiras pesquisas políticas se observa uma liderança significativa de Lula, seguido por uma força antagônica e com postura de extrema direita que é Jair Bolsonaro (PSL). A estratégia de manter Lula candidato é um jogo de alto risco, que fica cada vez mais perigoso com o prolongamento da prisão do petista e com a aproximação do pleito. O reflexo disso é que já são cerca de 20 candidatos a presidente, assim como ocorreu nas eleições de 1989 com perspectivas de pulverização dos votos dos partidos de esquerda e, por outro lado, o fortalecimento do candidato que melhor representa o “antipetismo” que é Bolsonaro”.
Cabe ao PT neste momento fazer uma auto reflexão do rumo perigoso que esta eleição pode trazer para o país e abrir diálogo com outros partidos de centro-esquerda e de esquerda como o PDT, o PSB, o PC do B e o PSOL sobre a necessidade de lançar um nome competitivo e capaz de conter o avanço da extrema direita no país. Isso evitaria uma fragmentação dos votos do Lula, que não são exclusivos dos petistas, e transferiria para um candidato capaz de vencer e garantir um governo progressista e popular.
Nomes como Ciro Gomes, do PDT, Manoela D´ávila, do PC do B, ou até mesmo o Joaquim Barbosa (PSB), se apresentar um projeto identificado com o campo democrático popular, poderiam ser impulsionados caso o PT, apresentasse um candidato a vice-presidente de um deles. Um gesto capaz de unir a centro esquerda, de garantir um projeto que proteja as conquistas sociais e promova a retomada do crescimento do país. Não vejo no PT nenhum quadro com potencial eleitoral competitivo, além de Lula, e capaz de formar uma frente partidária como ocorreu, por exemplo, nas eleições de 2002, onde Lula recebeu o apoio do antigo PL, hoje PR, partido do vice José de Alencar, do PMN e do PC do B. Seria dar um passo atrás, para dar dois à frente. E se Lula não for mesmo candidato, não vejo outro caminho.